domingo, 21 de junio de 2015

O trenzinho caipira



El poeta brasileño Ferreira Gullar en un apartamento de Buenos Aires. Era 1975 y se encontraba exiliado y perdido. En la estantería de la sala hay algunos libros, un teléfono, un tocadiscos y en aquel espacio hostil y frío, desesperado decide escribir "Poema sujo" un torrente de palabras y de imágenes poéticas que tal vez podría llegar a ser su testamento literario.

En la vitrola está el disco de Heitor Vilalobos, "Bachiana Brasileira Nº 2" esperando a que el poeta escriba la letra del "Trenzinho Caipira".


Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela serra
Vai pelo mar
Cantando pela serra do luar
Correndo entre as estrelas a voar
No ar no ar no ar no ar no ar
Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela serra
Vai pelo mar
Cantando pela serra do luar
Correndo entre as estrelas a voar

No ar no ar no ar





martes, 16 de junio de 2015

Poema Sujo





En este texto (en portugués) el poeta brasileño Ferreira Gullar explica como fue el proceso de creación de su "Poema sujo". 



A história do poema 
Ferreira Gullar  



Escrevi o Poema sujo em 1975, em Buenos Aires, depois de anos de exílio em Moscou, Santiago do Chile e Lima. Se a primeira parte do exílio foi sofrida e atordoante (só me dei conta de que minha presença em Moscou era real seis meses depois de estar vivendo lá), a última parte — queda de Allende, reencontro traumatizante com a família no Peru — foi devastadora. Transferi-me em 1974 para Buenos Aires, cidade mais acolhedora e próxima do Brasil, mas, desgraçadamente, logo a situação política se agravou, desencadeando-se a repressão às esquerdas e aos exilados. À minha volta, os amigos começaram a ser presos ou fugir. Com o passaporte vencido, não poderia sair do país, a não ser para o Paraguai ou a Bolívia, dominados por ditaduras ferozes como a nossa. Enquanto isso, a cada manhã, novos cadáveres eram encontrados próximo ao aeroporto de Ezeiza, alguns deles destroçados a dinamite. Sabia-se que agentes da ditadura brasileira tinham permissão para entrar no país e capturar exilados políticos. Sentia-me dentro de um cerco que se fechava. Decidi, então, escrever um poema que fosse o meu testemunho final, antes que me calassem para sempre.

Já fizera algumas tentativas de evocar, em forma de romance, os anos vividos em São Luís do Maranhão. Não conseguira ir além das setenta primeiras páginas, e o resultado não era bom. Insistia naquilo por acreditar que o tema não cabia num poema. Mas a gravidade e a urgência da situação não apenas mudavam minha relação com o passado como me impeliam para o meu meio natural de expressão — o poema. Não se tratava, porém, de simplesmente evocar a infância e a cidade distante. Queria resgatar a vida vivida (um modo talvez de sentir-me vivo), descer nos labirintos do tempo para talvez, quem sabe, encontrar amparo no solo afetivo da terra natal. Não queria fazer um discurso acerca do passado, mas torná-lo presente outra vez, matéria viva do poema, da fala, da existência atual. Por isso pensei usar de procedimento semelhante ao que adotara para escrever “O formigueiro”, em 1955. Semelhante mas essencialmente diverso: imaginei que poderia vomitar, em escrita automática (automatisme psychique), sem ordem discursiva, a massa da experiência vivida — lançar o passado em golfadas sobre o papel e, a partir desse magma, construir o poema que encerraria a minha aventura biográfica e literária.

Isso me ocorreu à noite, na cama, e, apesar do estado de excitação em que fiquei, preferi esperar a manhã seguinte para pôr em prática o projeto. E, de fato, mal me levantei, engoli qualquer coisa e logo me pus em frente à máquina de escrever: mas o “vômito” não vinha, e eu não sabia como provocá-lo. Como meter o dedo na garganta da linguagem se a linguagem não tem garganta? Fiquei desapontado; tudo o que imaginara à noite mostrava-se inviável à luz do dia. O poema final e extremo jamais seria escrito! Mas eu estava decidido a escrevê-lo e busquei o modo possível de fazê-lo, já que o que importava não era o modo, e sim o poema mesmo. “O poema deve começar antes de mim”, pensei, “começar antes do verbo.” E foi um alívio quando, calcando lentamente as teclas, pude escrever: 

turvo turvo 
a turva 
mão do sopro 
contra o muro

Encontrado o umbigo do poema, ele foi ganhando corpo. Escrevi cinco páginas e parei. Estava exausto e iluminado, sabia que uma ampla aventura se iniciava, penetrara enfim a dimensão onde se acumulara a riqueza incalculável e imprevisível do vivido. O fascinante é que toda essa riqueza que estava dentro de mim — e está dentro de todos — parecia agora acessível à expressão. E mais: tudo o que a constituía e que eu “sabia”, desde momentos mais intensos até os mais banais, das pessoas às coisas, das plantas aos bichos, tudo, água, lama, noite estrelada, fome, esperma, sonho, humilhações, tudo era agora matéria poética já que eu me tornara um Midas, capaz de transformar em poesia cada coisa em que tocasse.

De maio a agosto, vivi entregue ao poema. Sozinho, sem emprego, com um mínimo de obrigações, passava o dia mergulhado nele, no que já escrevera e no que pulsava em meu corpo, em minha mente, no ar, e que era o poema se fazendo, me usando para se fazer. Inquieto, hanté, saía para a rua e ficava andando pelos quarteirões próximos à avenida Honorio Pueyrredón, onde eu morava, ou nas vizinhanças da estação Caballito do metrô, o coração aos baques, a transformar em palavras e imagens a enxurrada de lembranças, sentimentos e ideias que, desencadeada, ameaçava sufocar-me. Em seguida voltava para casa e redigia as novas estrofes.

Em agosto, se não me equivoco, o poema, que até ali fluíra naturalmente, estancou de repente. A atmosfera quase mágica em que me movia desfez-se. A “viagem” terminara, o poema se dera por findo. Ainda insisti em prolongá-lo, escrevendo outras estrofes, que logo verifiquei descabidas e eliminei. Era impossível continuá-lo, mas, ao mesmo tempo, faltava concluí-lo, faltava um fecho, que eu não sabia qual era. Durante quase dois meses, deixei de pensar nele, ocupei- -me de outras coisas. Até que um dia, inesperadamente, comecei a murmurar:

O homem está na cidade 
como uma coisa está em outra

Hoje, quando releio essa última parte do Poema sujo, surpreendo- -me com a sua perfeita adequação ao resto do poema, ou seja, com o fato de ter produzido, sem perceber, a exata conclusão que ele exigia. 
Bem, o poema estava concluído. À parte qualquer juízo de valor, tinha noção de que, ao escrevê-lo, vivera uma experiência poética única, por sua longa duração e pelo estado especial em que o fizera, de extraordinária liberdade interior, que tornava atuais, presentes, todas as palavras, todos os cheiros, os sons, os afagos, as sensações experimentadas e as vozes ouvidas e lidas, da infância, da família, dos amores, dos poetas.

Guardei o poema. Apenas a Thereza, numa de suas idas a Buenos Aires, havia lido a parte inicial dele, antes da leitura feita por mim, a pedido do Vinicius de Moraes, na casa do Augusto Boal, para um grupo de amigos, quase todos exilados como eu. Após essa leitura, Vinicius, comovido, pediu-me uma cópia do poema, queria levá-lo para o Brasil. Finalmente, decidimos que seria melhor gravá-lo numa fita, o que foi feito já no dia seguinte. No Rio, Vinicius reuniu um grupo de amigos em sua casa para ouvir o poema. Nas circunstâncias, ouvi-lo dito por mim, poeta exilado, era certamente emocionante, e isso fez com que as cópias do poema se multiplicassem e outros grupos se formassem para escutá-lo. Sem demora, recebi do editor Ênio Silveira carta pedindo urgente uma cópia escrita do poema, porque ele queria editá-lo o mais rápido possível. De fato, poucos meses depois, o “Poema sujo” estava nas livrarias, suscitando a iniciativa de escritores, jornalistas e amigos para obter do governo militar a garantia de que eu pudesse voltar ao Brasil sem sofrer represálias. Só tomei conhecimento disso mais tarde, quando o processo já se desencadeara. Mantive-me neutro mas interessado no desfecho positivo dessas gestões que envolveram alguns cabeças da ditadura. A resposta foi não. Mas eu já estava cansado do exílio, com dois filhos doentes no Brasil e uma saudade insuportável. Voltei, fui levado para o doi-Codi, submetido a um interrogatório de 72 horas ininterruptas, acareações e ameaças (ameaçavam sequestrar um de meus filhos, internado numa clínica psiquiátrica). E eles sabiam tudo o que desejavam ouvir de mim. No final, explicaram: “foi pra você não pensar que podia voltar assim, de graça”. De qualquer modo, devo ao “Poema” sujo o fim antecipado do meu exílio. 

miércoles, 10 de junio de 2015

Un día sin leer





          E você que está lendo?

Talvez Clarice, Drummond, Cony, Ruy Castro, Vinicius, Manoel de Barros, Ferreira Gullar, Graciliano, Saramago, Guimarães Rosa, Mia Couto, Manuel Bandeira, Benedetti, Cortázar... 

martes, 9 de junio de 2015

La máquina de escribir





El escritor y algunas de sus herramientas básicas: sus manos, la máquina de escribir, las gafas de miope y un enorme talento para la prosa poética de los periódicos y para escribir libros líricos, golfos, noctívagos, memorias inventadas y diarios desordenados por el tiempo.



LA MÁQUINA DE ESCRIBIR

Pequeña metralleta entre mis manos,
máquina de matar con adjetivos,
máquina de escribir, arma del tiempo.
En todas las mañanas de mi vida,
el tableteo audaz de mi olivetti,
ese ferrocarril de ortografía
en que viajo muy lejos de mí mismo
o retorno a los campos de la prosa
para reñir batallas en mi lengua
con todos los que mienten, los que gritan,
con los que escriben en feroz tanqueta
para no decir nada y meter miedo.

Vieja olivetti verde, azul o negra,
escalinata alegre de las letras,
sobre esta escalinata, una mañana,
me encontrarán tendido, no vencido.
Libros, papeles, cosas y poemas
han salido y saldrán de este cacharro.
Pavonado revólver de mi prosa,
sus muecas son ministros fusilados,
canto de codorniz, canto de urraca,
como las que ahora pueblan el jardín.
Alegría y salud, mi vieja máquina
me regala un estilo, una escritura
y las gentes se paran para verlo.

FRANCISCO UMBRAL, 2000


LAS MANOS

Las manos, estas manos de la foto, son mis manos mecanográficas que aprendieron hace casi medio siglo a escribir el padrenuestro en una underwood casi ferroviaria, por decreto de mi abuela, y desde entonces no han parado de producir padrenuestros laicos, ese padrenuestro que es el artículo, la crónica, la columna, la página "con calidad de página", pidiendo a los cielos el pan nuestro de cada día, para mí y para el lector, santificado sea el nombre de los editores de libros y periódicos que nunca me han negado ese pan, la calderilla del escritor, la limosna que se le da en España al que pide por el bien de todos y escribe para el deleite de algunos.

Las manos, mis manos, estas manos, han penetrado muy femeninas pieles amorosas, ardorosas, muy femeninas cabelleras como relente de estrellas, dulce escoria de sol o de luna. "Manos de pianista", dicen las enamoradas (enamoradas del tópico más que de uno). Manos de obrero, digo yo, laborales manos que picotean el abecedario todos los días de una vida, porque el tiempo es un texto que hay que pasar al arameo, al cirílico o al castellano para que no se nos vuele. No tengo más que estas manos, no tengo más que dos manos, choca esa mano, lector. 

FRANCISCO UMBRAL, 1997

Chico Buarque






El País, Domingo 25 de Mayo de 2015

>> ENTREVISTA

Chico Buarque: Una leyenda brasileña

ANTONIO JIMÉNEZ BARCA

Chico Buarque. Río de Janeiro, 1944. Es hijo de un conocido historiador, Sérgio Buarque de Hollanda, y de la pintora y pianista Maria Amélia Cesário Alvim. Comenzó a estudiar Arquitectura, pero la abandonó a los dos años, cuando su carrera como compositor e intérprete comenzaba a destacar. En 1966 obtuvo su primer éxito rotundo, con la canción A banda. Desde entonces, no ha dejado de componer obras maestras, como Apesar de você, Construção, O que será (à flor de pele) o Cálice. Está considerado uno de los grandes de la música popular brasileña, junto a Tom Jobim y João Gilberto, entre otros. Paralelamente, ha desarrollado una carrera como escritor y dramaturgo. El hermano alemán, publicado ahora en español por Mondadori, es su quinta novela.


Solo hay algo más difícil que encontrar a un hombre que hable mal en Brasil de Chico Buarque: encontrar a una mujer que no esté enamorada de él. Sus fascinantes ojos de un color extraño entre el verde, el azul y el gris constituyen una leyenda nacional. Sus canciones, simplemente, son parte ya de la historia, de la herencia y de la cotidiana identidad de un pueblo. Por eso, intimida un poco acercarse al edificio de un barrio noble de Río de Janeiro donde vive y subir en el ascensor imaginando qué se va a encontrar uno detrás de la puerta. Lo que hay es un tipo delgado y tímido, sencillo y sonriente, que esperaba solo sentado en una silla y que nada más ver al recién llegado le invita a un café que acaba de hacer. El salón de su casa, abierto en tres paredes acristaladas a varias playas de Río, goza de una vista apabullante en esta hermosa tarde de sol y de luz del final del verano del trópico. Al fondo, en una esquina, hay una guitarra y un piano, al lado de una enorme foto en la que Buarque aparece junto a Vinicius de Moraes y Tom Jobim, dos de los míticos creadores de la bossa nova.

Sobre una mesa duerme la nueva novela del artista, recientemente publicada en español, El hermano alemán (Mondadori). En ella, Buarque (1944) relata su conmoción al enterarse, ya adulto y de sopetón, de que su padre, el famoso historiador brasileño Sérgio Buarque de Hollanda, tuvo un hijo en Alemania en 1930 cuando era corresponsal en Berlín para un periódico brasileño. Ni Buarque supo hasta entonces que tenía un hermano en Alemania ni ese hermano alemán supo jamás que estaba emparentado con uno de los cantantes más famosos de Brasil, ya que murió en 1981 ignorándolo casi todo de su padre biológico. El escritor disfraza algo los hechos, pero por las páginas de la novela desfila el São Paulo de los años sesenta y setenta, menos enorme e inhumano que el actual, y su propia juventud algo descontrolada. También asoma la siniestra dictadura, a la que Buarque se opuso desde el principio y de la que se exilió en 1969. Pero, sobre todo, se muestra la casa familiar, emparedada de arriba abajo de los libros de su progenitor. Era un padre afable pero lejano, cariñoso, pero distraído y algo ausente, siempre inmerso en interminables lecturas que llevaba a cabo envuelto en la nube de humo de un cigarro perpetuamente encendido. En la novela, el protagonista, un remedo del propio Chico Buarque, mientras hojea uno de esos libros de la inmensa biblioteca paterna, repara en un sobre perdido entre sus páginas que contiene una vieja carta alemana que le pone sobre la pista de aquel hermano mayor que nunca conoció. En realidad, el descubrimiento no fue tan libresco.

¿Cuándo se enteró usted de que tenía un hermano? 
Lo supe, exactamente, en 1967, cuando yo tenía 23 años. Me acuerdo muy bien, incluso hay una foto de ese día. Vinicius de Moraes, Tom Jobim y yo fuimos a visitar al poeta Manuel Bandeira, que ya estaba muy viejecito, a su casa en Río. Y, bueno, hablando de esto y de lo otro, Bandeira preguntó por mi padre, del que era muy amigo: “¿Qué, cómo está Sérgio? ¡Ah!, Cuánto tiempo hace que no lo veo, vivimos tantas cosas juntos… Se fue a Alemania, tuvo aquel hijo…”. Y ahí soltó eso.

¿Y qué hizo usted? 
Pues le dije: “Pero ¿qué hijo?”. Y ahí Vinicius replicó: “¿Pero tú no lo sabías, lo del hijo?”. Y yo: “Pues no”. Yo no sabía nada. Era un secreto de familia. Después de ese día hablé con mis hermanos y con mi padre. Hablé con mi padre, sí, pero había siempre una barrera a la hora de preguntarle. Escribiendo este nuevo libro me he cuestionado por qué no le interrogué más. Pero existía un reparo, un impedimento. No es que mi padre me prohibiera preguntarle sobre lo del hijo, pero yo sentía cierto incomodo en el tema. De mi padre y de mi madre.

¿Y eso se volvió una obsesión a lo largo de los años? Porque usted siguió investigando, sobre todo después de la muerte de su padre, en 1982. Incluso la editorial brasileña que iba a publicar el libro, Companhia das Letras, contrató a dos detectives para que le ayudaran en la investigación. 
No, no, no eran detectives, ja, ja. Eran historiadores. Uno de ellos era un brasileño que por casualidad se encontraba en Alemania cuando yo comencé a redactar el libro, hace tres años. Es verdad que fue contratado por la editorial. Él conocía a un documentalista alemán especializado en la inmigración alemana en el Estado de Santa Catarina. Ellos descubrieron que mi hermano, en realidad, se llamaba Sérgio Günther y que había sido adoptado por una familia a los pocos años de edad. La verdad es que cuando comencé a escribir el libro tenía muy poca información. Tampoco la precisaba. Ni siquiera pretendía encontrarlo. La historia no iba por ahí. Pero pasó que, mientras lo escribía, uno de mis hermanos, el que vive en el apartamento de mi madre, muerta hace cinco años, encontró en un cajón unos documentos que contenían datos para tirar del hilo. Yo llevaba 50 páginas del libro, que dejé como estaban. Pero la realidad se inmiscuyó en la redacción para siempre.

La historia que usted narra en la novela es buena, pero la realidad en la que se apoya también. 
Sí, debería escribir otro libro porque, al final, la novela acaba compitiendo con la historia real, que es muy impresionante.

Es cierto. Por medio de esos documentos, Buarque se enteró de dos cosas: que su padre había intentado que las autoridades alemanas le remitieran a su hijo aportando la documentación pertinente o, al menos, lograr que le hicieran partícipe de una pensión que él prometía enviar. La segunda es que la madre biológica había decidido, en medio de la Alemania convulsa de la época, entregar al niño al Estado para que fuera adoptado. Una carta remitida a su padre en 1934 por la Secretaría de Infancia y Juventud de Berlín (y que terminaba con un terminante “Heil Hitler!”) pedía a Sérgio Buarque de Hollanda que, a efectos de que su hijo fuera adoptado por la familia alemana Günther, que se interesaba por él, debía remitir lo más pronto posible certificados que avalaran la religión católica del padre. Chico Buarque, al leer la carta, supuso, con tanto asombro como espanto, que las autoridades alemanas exigían eso para que quedara demostrado que el pequeño Sérgio no llevaba en las venas sangre judía. De lo contrario, en vez de a una familia cualquiera podía haber sido trasladado a un campo de concentración. Los historiadores lograron finalmente, en 2013, identificar al hermano, Sérgio Günther, fallecido en 1981, y localizar a su exmujer, a su hija y a su nieta. Pocos meses después, Chico Buarque viajaba a Berlín para conocer a la otra parte de su familia y saber más cosas de su medio hermano.

Y así se enteró de que su hermano había sido cantante… 
Sí, en Alemania Oriental había sido muy conocido, como cantante y como presentador de televisión. Cuando me enteré de que había sido cantante, sentí una emoción muy fuerte. ¿Y sabe?, cuando oí un disco suyo me di cuenta de que tenía la voz grave de mi padre. Porque a mi padre le gustaba mucho cantar. Y sonaba igual.

¿Tenían más cosas en común? 
Los dos murieron de un cáncer de pulmón. Mi padre fumaba muchísimo. Cuando conocí a la familia de mi hermano, su viuda (una de sus viudas, porque se casó más de una vez) me explicó que Sérgio Günther fumaba cigarrillos a los que les arrancaba el filtro. Exactamente como mi padre. Cosas así que dan un poco de escalofrío. Todos allí me contaron que mi canción A banda había sido traducida al alemán y era muy conocida en Alemania Oriental, con una letra muy cambiada y algo absurda, eso sí. Así que no es extraño que mi hermano sí que me oyera a mí cantar. Es una manera de haberme conocido un poco, ¿no?

¿Él nunca tuvo curiosidad por saber quién era su padre biológico? 
Su viuda me contó que en un determinado momento, sí, que preguntó en la Embajada brasileña, pero entonces la Alemania Oriental era un país muy cerrado, con muy pocas posibilidades de conseguir información.

En el libro, el protagonista parecido a usted roba coches para divertirse. ¿Usted lo hacía también? 
Sí. Yo iba entonces con una pandilla de adolescentes del barrio, eran los tiempos de James Dean, del rock and roll, de una juventud un poco rebelde. Así que nuestro deporte era robar coches, circular en ellos por la ciudad y luego dejarlos en el fin del mundo. Y fui al calabozo por eso una vez. La policía me dio para el pelo. Pero, bueno, eso yo ya lo he contado. Antes de que se descubriera lo dije yo. Tuve suerte porque el día en que me detuvieron mis padres no estaban en casa, estaban viajando, y la que fue a recogerme fue mi hermana. Yo entonces era bastante…, en fin, que di bastante trabajo a mi familia.

Paralelamente, era muy buen lector, ¿no? 
Sí, es verdad. También fue una manera de aproximarme a mi padre, que se pasaba la vida entre libros. Yo diría que, antes de ser músico, yo quería ser escritor. Hasta que apareció la música en mi vida y me embarqué en ella. Pero la idea de dedicarme a la literatura no la abandoné. En los setenta publiqué mi primera novela, en los ochenta la segunda. Desde entonces alterno las dos cosas. Cuando hago una no hago otra porque consumen mucho. Cuando estoy escribiendo ni siquiera oigo música.

¿Pero son actividades tan diferentes? 
Para mí, sí. Mucho. Y eso que mi escritura está muy influida por mi música. Tal vez en las traducciones se pierda algo, pero mis textos tratan de llevar cierto ritmo musical. Además, hay que alternar las dos cosas porque, por lo menos en Brasil, es muy difícil que un escritor viva solo de la literatura. Los escritores trabajan de funcionarios, profesores, periodistas… Y todo esto está tan lejos de la literatura como la música. El hecho de ser periodista, por ejemplo, no le faculta a usted a escribir literatura, creo yo.

Se dice que cada vez escribe más y compone menos. 
Compongo menos que a los veinte. Es normal. La música popular es más un arte de juventud, con el tiempo uno va perdiendo, no sé, no el interés, pero ella ya no fluye con la abundancia de aquellos años primeros. Tengo que esforzarme más, buscar más, es más dificultoso. Al principio tienes un millón de ideas, todo lo que te rodea sirve para hacer una canción. Después todo se va volviendo más insípido, menos inspirador.

¿Todavía sostiene que lo mejor de un concierto es cuando se acaba? 
[Se ríe] No me gusta mucho dar conciertos, no, pero los tengo que hacer. Cuando lanzo un nuevo disco, sí que me dan ganas de ir por ahí y cantarlo en público. Además, eso hace que después pueda pasar dos años escribiendo. Si no, me arruinaría.

¿Por qué la música popular brasileña es tan conocida y la literatura no? 
Puede que sea porque es peor, pero no lo creo. Es verdad que, por ejemplo, el argentino es un pueblo más literario que el brasileño. Y también que los literatos brasileños juegan con una desventaja, porque el portugués es más desconocido. Y la riqueza musical brasileña es fácilmente exportable, no necesita traducción.

Y al revés: ¿por qué la música brasileña es tan aceptada, tan apreciada? 
Porque, principalmente después de la bossa nova, tiene la influencia negra, es hija de la samba, pero con un toque del jazz, un toque armónico. Además, tiene influencia de los grandes compositores de la música clásica. Mire: Tom Jobim, nuestro gran maestro, era un conocedor profundo de Chopin y de Debussy, de los impresionistas, entre otros muchos. Y todo eso está en nuestra música, mezclado, junto con los boleros cubanos y los ritmos mexicanos. El brasileño no excluye, él asimila. El resultado fue complejo, rico y único.

¿Cómo era ese mundo? ¿Cómo era convivir con Jobim, con Vinicius? 
¡Ah! Ellos… eran sobre todo grandes amigos. Mire esa foto de ahí, estoy con los dos. Yo comencé a emocionarme de verdad por la música, a decidirme a hacer canciones seriamente a partir del tema Chega de saudade, compuesto por Tom Jobim y Vinicius e interpretada por João Gilberto. Les tenía en un altar. Conocía ya a Vinicius porque era amigo de mi padre, pero, para mí, era como hablar con un monumento. Así que la primera vez que me vine a Río a hablar con Tom Jobim, imagínese, era un sueño. Con el tiempo fueron mis amigos, mis socios, hice muchas canciones con ellos, fui aceptado en ese grupo selecto de la música popular brasileña.

Fue Tom Jobim el que dijo que Brasil no era un país para amateurs, ¿no? 
Sí, y yo lo suscribo. Es un país único, fruto de la colonización portuguesa, con emigrantes de todas partes del mundo, italianos, alemanes, árabes, japoneses, con la marca de los esclavos traídos a la fuerza… Y con orígenes indígenas antes de todo eso. Todo esto está presente ahora. En São Paulo, sin ir más lejos, usted puede buscar nombres indígenas en muchas calles. Esas circunstancias crean un país único.

Usted siempre ha tenido una posición política clara y explícita. Se opuso a la dictadura y ha apoyado a Lula y a Dilma Rousseff, del Partido de los Trabajadores. 
Siempre me preguntan cuando hay elecciones. Y yo tomo partido y no tengo ningún problema en proclamarlo. Siempre he apoyado al PT, ahora a Dilma Rousseff y antes a Lula. A pesar de no ser miembro del partido y a pesar de tener mis desavenencias y de votar a otros candidatos y otros partidos en elecciones locales. Pero desde siempre he sabido que el problema de este país es la miseria, la desigualdad. El PT no lo ha resuelto todo, pero lo ha atenuado. Eso es innegable. El PT ha mejorado las condiciones de vida de la población más pobre.

¿Y cómo ve la situación actual? 
Muy confusa, no hay forma de saber lo que va a pasar en los próximos años. La crisis económica es fuerte. Hay que tomar ciertas medidas impopulares. Al mismo tiempo, la oposición es muy dura. Y luego hay una ola de manifestaciones en la calle que, a mi juicio, no tienen un objetivo concreto o claro. Entre los que salen a la calle hay de todo, incluyendo locos pidiendo un golpe militar. Otros quieren acabar con el Partido de los Trabajadores, quieren debilitar el Gobierno para que en 2018 el PT llegue desgastado a las elecciones. El objetivo no es Dilma, sino Lula; tienen miedo de que Lula se presente de nuevo.

Y para terminar: ¿cómo se vive sabiendo que es el hombre más deseado del país? De eso hace ya mucho tiempo.
Lo siguen diciendo. De eso no sé nada. Soy tímido, un ciudadano serio, un hombre de familia. Las historias se inventan, se levantan leyendas que no tienen que ver mucho con la realidad. No soy el seductor del que hablan.


La entrevista termina y el cantante trata de llamar a un taxi para el periodista por medio de una aplicación del móvil. Pero fracasa. “Mi nieta sabe, pero yo no me apaño”, explica. Mira hacia la preciosa tarde que cae y dice : “Deje, le acompaño”. Se pone unos pantalones cortos, una gorra que oculta su rostro y se encamina, junto al periodista, calle abajo, por Río de Janeiro, hablando de los padres, de los libros, de las familias y de la música.

domingo, 7 de junio de 2015

Enemigos de lo ajeno





El último de la fila: "Enemigos de lo ajeno" (1986)

LISTA DE CANCIONES

01. Lejos de las leyes de los hombres
02. Insurrección
03. Mi patria en mis zapatos
04. Aviones plateados
05. Zorro veloz
06. Las palabras son cansancio
07. Soy un accidente
08. Los ángeles no tiene hélices
09. No me acostumbro
10. ¿Para qué sirve una hormiga?

COMENTARIO

martes, 2 de junio de 2015

María España



MARÍA ESPAÑA

"Andas entre las ramas, te pierdes 
y reaparareces por el jardín,
buscando flores sin nombre, 
o mimando el barroquismo excesivo de las rosas,
eres luz en la luz o sombra en la sombra,
estás repentinamente en un sitio o en otro,
riegas un poco sobre lo que ha regado el jardinero,
pensando al nivel de ti misma, rubia y morena
y yo desde la sombra interior y letrada de la casa
te veo ir y venir, aparecer y desaparecer
y recupero un momento a la de entonces
aquella niña de provincias con calcetines blancos 
y zapatos altos de su hermana mayor".


FRANCISCO UMBRAL

"De la vida sólo queda, María, un rastro de chatarra, 
que un día fue el oro luciente de nuestra actualidad".


MORTAL Y ROSA

Nadie tan solo como yo. 
Ninguna tan nadie como tú.

¿Y ahora?

Nos hemos quedado aquí 
para asistir a una posteridad de cielo y verano que nadie habita, 
viendo pasar la estela de la muerte,
estela clara de espuma silenciosa,
hasta su final de cometa, de estación o de agua.