PALAVRAS & PERALTAGENS
"Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com os sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim: O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz. Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem. Perdoem-me os leitores desta entrada mas vou copiar de mim alguns desenhos verbais que fiz para este livro. Acho-os como os impossíveis verossímeis de nosso mestre Aristóteles.
Dou quatro exemplos:
1) É nos loucos que grassam luarais;
2) Eu queria crescer pra passarinho;
3) Sapo é um pedaço de chão que pula;
4) Poesia é a infância da língua.
Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades".
MANOEL DE BARROS
POSDATA (en español):
Te has ido, viejo maestro, un jueves de noviembre cuando el día no hacía nada más que comenzar y todos nos íbamos camino del trabajo, sorteando el oficio de vivir.
Te has ido, viejo maestro, porque alguien lo ha dicho en las noticias de la televisión y nos dejas solos en aquel lugar del que tanto hablabas, cerca del abandono.
Te has ido, viejo maestro, y nos dejas tus palabras y tus travesuras con la gramática brasileña, palabras desimportantes, despropósitos poéticos que nos llevaban de vuelta a una infancia olvidada en aquel cuaderno escolar, donde dibujábamos hormigas, estrellas y silencios.
Te has ido, viejo maestro y nos dejas la materia de la poesía escondida en las páginas de tus libros, onde pássaros, adjetivos e meninos do mato assoviam a tua ausencia.
Você já sabia que "ontem choveu no futuro".
Comparto la emoción!
ResponderEliminar