Os dejo aquí este interesante artículo del periodista Juan Arias, donde reflexiona en voz alta sobre la importancia de que toda Iberoamérica se una hablando los idiomas português y espanhol. Espero que os guste.
El País, Quinta-feira 28 de Novembro de 2013
Duas línguas irmãs
Quando um espanhol pronunciar corretamente “pão”, “coração” ou “paixão” poderá dizer que fala “brasileiro”; antes, não
Este jornal fala, a partir de agora, também o português. Foi o abraço das duas línguas irmãs de um continente dividido, sobretudo, pelo idioma, segundo me dizem alguns intelectuais. Duas línguas prenhas de história e de cultura, berços, ambas, de uma literatura invejável no mundo.
Meio continente da América Latina fala a língua de Cervantes e García Márquez, e o outro meio – como dizia anteontem em uma entrevista a este jornal a presidenta da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado – fala o português de Camões e Guimarães Rosa, indicando que o Brasil, mais do que um país, é quase metade do continente.
Deveríamos todos, então, falar espanhol e português? É uma pergunta que se fizeram alguns brasileiros quando foi aprovada aqui, há alguns anos, a lei que obrigava as escolas públicas a oferecerem, aos alunos que desejassem, o ensino do espanhol.
As leis, no entanto, acabam em letra morta se não houver a vontade de cumpri-las por parte do poder e dos cidadãos. E essa vontade depende de mil imponderáveis.
No caso do Brasil, me lembrava Machado – e pude comprová-lo nos 15 anos em que venho informando a partir deste país –, os brasileiros entendem o espanhol muito melhor, por exemplo, do que os espanhóis entendem o português. Por uma simples razão fonética: nossas vogais [em espanhol] são todas abertas, sem nasais, as deles [brasileiros] são mais sinuosas, mais curvilíneas, mais musicais. A expressão de queixa com caráter sexual, por exemplo: “pô” (nem pronunciam inteira) não soará nunca como o espanhol “joder” ou “carajo”.
Eu me refiro ao espanhol da Espanha, porque o que se fala em geral na América Latina de alguma forma se aproxima mais da musicalidade brasileira, embora também seja mais compreensível para eles porque suas vogais são abertas.
Quando me convidam para um programa de televisão, sempre me avisam: “Se preferir falar espanhol, pode falar, nossos ouvintes entendem”, algo que não ocorre ao contrário. Às vezes, os brasileiros têm mais dificuldades para entender o português de Portugal, ou “europeu”.
Há sons dos brasileiros que um espanhol precisa de anos para pronunciar como eles, se é que conseguirão, como “pão”, “coração” ou “paixão”. Um amigo meu me disse um dia: quando você pronunciar bem essas três palavras, poderá dizer que fala “brasileiro”; antes, não.
Ainda não falo, porque nunca me sai redondo como para eles esse eco que deixam no ar ao pronunciar “pão”, “coração” ou “paixão”.
E talvez seja essa diversidade que leva, como vi por experiência própria, muitos falantes do espanhol a desejarem aprender o português, sobretudo o do Brasil, porque dizem que é “muito doce” e porque adoram escutar as letras dos grandes músicos como Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Maria Bethânia e um etc. sem fim. São sons que arrebatam.
Na primeira vez que cheguei ao Brasil, numa das viagens do papa João Paulo II, acostumado aos sons estridentes dos alto-falantes dos nossos aeroportos espanhóis, fiquei extasiado quando em um dos aeroportos brasileiros (já não me lembro qual) uma voz feminina, como um lamento sensual, avisou: “Próximo destino: Manaus”. Um colega espanhol da comitiva papal, muito castiço, enviado especial da Rádio Nacional da Espanha, me disse: “É que a gente se derrete de satisfação”. E acrescentou: “É que nós falamos de um jeito muito bruto”.
Os brasileiros, no entanto, também gostam de escutar o espanhol. Pedem que você fale com eles, sobretudo quando se trata de poesia, de Lorca ou Neruda, por exemplo. Pode ser que, para nós, a nossa língua pareça dura ao lado desse timbre musical deles, mas eles gostam, a acham sonora, com uma musicalidade diferente, dizem. E quem estudou um pouco de espanhol se anima em seguida a entrar na dança. E ao falar nossa língua encaixam nela graciosamente a musicalidade do português brasileiro.
Estamos falando de duas línguas irmãs porque elas nascem de uma mesma cepa latina. Não falamos do português e do alemão ou do sueco.
Um dos sonhos dos brasileiros de classe média é visitar a Espanha. Muitos sempre me pedem conselhos de itinerários. Voltam sempre fascinados e trazem na memória frases em castelhano, que lhe oferecem como um presente. E soam aveludadas na sua boca. Acontece o mesmo, por exemplo, com os mexicanos e demais países latino-americanos. Com relação aos argentinos, em um dos lugares mais privilegiados pelo turismo brasileiro na América Latina, junto com México, Peru e Chile, os daqui costumam imitar com graça, ao retornarem de Buenos Aires, o seu sotaque portenho.
Tudo isso para dizer que eu, que já amo este país como parte de mim, embora às vezes algumas coisas do seu caráter continuem me irritando, como para eles devem irritar outras tantas minhas ou mais, me sinto feliz de ver que este jornal com vocação global e ibero-americana tenha decidido falar também português e a partir daqui, do Brasil, e com uma redação majoritariamente brasileira.
São esses gestos, mais que as leis, que podem levar ambos, sem percebermos, a sermos bilíngues sem leis que nos obriguem a isso, só com a força da simpatia recíproca que se cria com diálogo, com intercâmbio de cultura, conhecendo-nos melhor, trabalhando juntos, porque, como dizia a acadêmica Ana Maria Machado, desse modo descobriremos que “somos mais parecidos e menos distantes do que supúnhamos”.
Ah, os brasileiros também gostam menos da dor e da tragédia do que nós. São mais inclinados à alegria sensual. É curioso, por exemplo, que a palavra “dolor” em espanhol, “dolore” em italiano, “douleur” em francês, seja em português a mais curta de todas. Reduziram-na, já que não podiam eliminá-la, a uma só sílaba: dor. E até a pronunciam baixinho. “É uma dor”, exclamam diante de algo triste ou uma desgraça, e a sílaba “dor” quase acaba se perdendo no suspiro.
Somos juntos, hispanófonos e lusófonos, uma das maiores populações do mundo. O que nos separa é muito menor do que o que nos une. E além do mais a modernidade está nos eliminando a distância física. Logo atravessaremos o Atlântico e chegaremos do Brasil a Madri ou ao México em menos tempo do que às vezes gastamos engarrafados em um carro, em São Paulo ou no Rio. Os conceitos de tempo e espaço estão mudando. Todo tempo a se aproximarem. Só nós continuaremos distantes e separados falando duas línguas que, como dizia Ana Maria Machado, “quase se entendem”?
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El País, jueves 28 de Noviembre de 2013
Quando um espanhol pronunciar corretamente “pão”, “coração” ou “paixão” poderá dizer que fala “brasileiro”; antes, não
Este jornal fala, a partir de agora, também o português. Foi o abraço das duas línguas irmãs de um continente dividido, sobretudo, pelo idioma, segundo me dizem alguns intelectuais. Duas línguas prenhas de história e de cultura, berços, ambas, de uma literatura invejável no mundo.
Meio continente da América Latina fala a língua de Cervantes e García Márquez, e o outro meio – como dizia anteontem em uma entrevista a este jornal a presidenta da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado – fala o português de Camões e Guimarães Rosa, indicando que o Brasil, mais do que um país, é quase metade do continente.
Deveríamos todos, então, falar espanhol e português? É uma pergunta que se fizeram alguns brasileiros quando foi aprovada aqui, há alguns anos, a lei que obrigava as escolas públicas a oferecerem, aos alunos que desejassem, o ensino do espanhol.
As leis, no entanto, acabam em letra morta se não houver a vontade de cumpri-las por parte do poder e dos cidadãos. E essa vontade depende de mil imponderáveis.
No caso do Brasil, me lembrava Machado – e pude comprová-lo nos 15 anos em que venho informando a partir deste país –, os brasileiros entendem o espanhol muito melhor, por exemplo, do que os espanhóis entendem o português. Por uma simples razão fonética: nossas vogais [em espanhol] são todas abertas, sem nasais, as deles [brasileiros] são mais sinuosas, mais curvilíneas, mais musicais. A expressão de queixa com caráter sexual, por exemplo: “pô” (nem pronunciam inteira) não soará nunca como o espanhol “joder” ou “carajo”.
Eu me refiro ao espanhol da Espanha, porque o que se fala em geral na América Latina de alguma forma se aproxima mais da musicalidade brasileira, embora também seja mais compreensível para eles porque suas vogais são abertas.
Quando me convidam para um programa de televisão, sempre me avisam: “Se preferir falar espanhol, pode falar, nossos ouvintes entendem”, algo que não ocorre ao contrário. Às vezes, os brasileiros têm mais dificuldades para entender o português de Portugal, ou “europeu”.
Há sons dos brasileiros que um espanhol precisa de anos para pronunciar como eles, se é que conseguirão, como “pão”, “coração” ou “paixão”. Um amigo meu me disse um dia: quando você pronunciar bem essas três palavras, poderá dizer que fala “brasileiro”; antes, não.
Ainda não falo, porque nunca me sai redondo como para eles esse eco que deixam no ar ao pronunciar “pão”, “coração” ou “paixão”.
E talvez seja essa diversidade que leva, como vi por experiência própria, muitos falantes do espanhol a desejarem aprender o português, sobretudo o do Brasil, porque dizem que é “muito doce” e porque adoram escutar as letras dos grandes músicos como Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Maria Bethânia e um etc. sem fim. São sons que arrebatam.
Na primeira vez que cheguei ao Brasil, numa das viagens do papa João Paulo II, acostumado aos sons estridentes dos alto-falantes dos nossos aeroportos espanhóis, fiquei extasiado quando em um dos aeroportos brasileiros (já não me lembro qual) uma voz feminina, como um lamento sensual, avisou: “Próximo destino: Manaus”. Um colega espanhol da comitiva papal, muito castiço, enviado especial da Rádio Nacional da Espanha, me disse: “É que a gente se derrete de satisfação”. E acrescentou: “É que nós falamos de um jeito muito bruto”.
Os brasileiros, no entanto, também gostam de escutar o espanhol. Pedem que você fale com eles, sobretudo quando se trata de poesia, de Lorca ou Neruda, por exemplo. Pode ser que, para nós, a nossa língua pareça dura ao lado desse timbre musical deles, mas eles gostam, a acham sonora, com uma musicalidade diferente, dizem. E quem estudou um pouco de espanhol se anima em seguida a entrar na dança. E ao falar nossa língua encaixam nela graciosamente a musicalidade do português brasileiro.
Estamos falando de duas línguas irmãs porque elas nascem de uma mesma cepa latina. Não falamos do português e do alemão ou do sueco.
Um dos sonhos dos brasileiros de classe média é visitar a Espanha. Muitos sempre me pedem conselhos de itinerários. Voltam sempre fascinados e trazem na memória frases em castelhano, que lhe oferecem como um presente. E soam aveludadas na sua boca. Acontece o mesmo, por exemplo, com os mexicanos e demais países latino-americanos. Com relação aos argentinos, em um dos lugares mais privilegiados pelo turismo brasileiro na América Latina, junto com México, Peru e Chile, os daqui costumam imitar com graça, ao retornarem de Buenos Aires, o seu sotaque portenho.
Tudo isso para dizer que eu, que já amo este país como parte de mim, embora às vezes algumas coisas do seu caráter continuem me irritando, como para eles devem irritar outras tantas minhas ou mais, me sinto feliz de ver que este jornal com vocação global e ibero-americana tenha decidido falar também português e a partir daqui, do Brasil, e com uma redação majoritariamente brasileira.
São esses gestos, mais que as leis, que podem levar ambos, sem percebermos, a sermos bilíngues sem leis que nos obriguem a isso, só com a força da simpatia recíproca que se cria com diálogo, com intercâmbio de cultura, conhecendo-nos melhor, trabalhando juntos, porque, como dizia a acadêmica Ana Maria Machado, desse modo descobriremos que “somos mais parecidos e menos distantes do que supúnhamos”.
Ah, os brasileiros também gostam menos da dor e da tragédia do que nós. São mais inclinados à alegria sensual. É curioso, por exemplo, que a palavra “dolor” em espanhol, “dolore” em italiano, “douleur” em francês, seja em português a mais curta de todas. Reduziram-na, já que não podiam eliminá-la, a uma só sílaba: dor. E até a pronunciam baixinho. “É uma dor”, exclamam diante de algo triste ou uma desgraça, e a sílaba “dor” quase acaba se perdendo no suspiro.
Somos juntos, hispanófonos e lusófonos, uma das maiores populações do mundo. O que nos separa é muito menor do que o que nos une. E além do mais a modernidade está nos eliminando a distância física. Logo atravessaremos o Atlântico e chegaremos do Brasil a Madri ou ao México em menos tempo do que às vezes gastamos engarrafados em um carro, em São Paulo ou no Rio. Os conceitos de tempo e espaço estão mudando. Todo tempo a se aproximarem. Só nós continuaremos distantes e separados falando duas línguas que, como dizia Ana Maria Machado, “quase se entendem”?
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El País, jueves 28 de Noviembre de 2013
¿Deberíamos hablar todos español y
portugués?
EL PAÍS
ahora también habla portugués. La llegada del periódico a Brasil supone el
abrazo de dos idiomas
JUAN ARIAS
Este diario
habla desde ahora también portugués. Ha sido el abrazo de las dos lenguas
hermanas de un continente al que le divide sobre todo la lengua, según me dicen
algunos intelectuales. Dos lenguas preñadas de historia y de cultura, cunas
ambas de una literatura envidiable en el mundo.
Medio
continente de América Latina habla la lengua de Cervantes y García Márquez y la
otra media- como decía anteayer en una entrevista a este diario, la presidenta
de la Academia de las Letras de Brasil, Ana María Machado- habla el portugués
de Camoes y de Guimarâes Rosa. Brasil más que un país es casi la mitad del
continente.
¿Deberíamos,
entonces, hablar todos español y portugués? Es una pregunta que se hicieron
algunos brasileños cuando se aprobó aquí, hace unos años la ley que obligaba a
las escuelas públicas a ofrecer obligatoriamente, a los alumnos que lo
pidieran, la enseñanza del español.
Las leyes,
sin embargo, acaban en letra muerta si no existe la voluntad de los políticos y
los ciudadanos de cumplirlas. Y esa voluntad depende de mil imponderables.
En el caso
de Brasil, me lo recordaba Machado, y lo he comprobado en los 15 años que llevo
informando desde este país, los brasileños entienden mucho mejor el español que
nosotros el portugués. Por una simple razón fonética: nuestras vocales son
todas abiertas, sin nasales, las de ellos son más moduladas. Las nuestras son
más marcadas, las de ellos más sinuosas, más curvilíneas, más musicales. La
expresión, por ejemplo, de carácter sexual de queja : po ( ni la pronuncian
entera)…, no sonará nunca como nuestro joder o carajo.
Me refiero
al español de España, porque el que se habla en general en Latinoamérica de
alguna forma se acerca más a la musicalidad brasileña. Cuando me invitan a un
programa de televisión siempre me advierten: “si prefiere hablar español, puede
hacerlo, nuestros oyentes lo entienden”. Algo que no ocurre al revés. A los
brasileños les cuesta a veces más trabajo entender el portugués de Portugal.
Hay sonidos
de los brasileños que un español necesita años, si es que lo consigue, para
pronunciarlos como ellos, como pão, coração o paixão. Un amigo mío me dijo un
día: cuando pronuncies bien esas dos palabras, puedes decir que hablas
“brasileiro”, antes, no.
Aún no lo
hablo, porque nunca me sale redondo como a ellos ese eco que dejan en el aire
al pronunciar pan y corazón o paixão.
Y es quizás
esa diversidad la que lleva, como he visto por experiencia propia, a muchos de
habla hispana a desear aprender portugués, sobre todo el de Brasil, porque
dicen que es “muy dulce” y les encanta escuchar las letras de los grandes
músicos como Chico Buarque, Gilberto Gil, Miltom Nascimento, Caetano Veloso,
Maria Bethânia y un largo etcétera. Son sonidos que embelesan.
Acostumbrado
a los sonidos estridentes de los altavoces de nuestros aeropuertos españoles,
la primera vez que llegué a Brasil en uno de los viajes del papa Juan Pablo II,
una voz femenina , casi como un lamento sensual, avisó por megafonía : “Proxima
destinaçao Manaus”. Me quedé extasiado. Un compañero español de la comitiva
papal muy castizo, enviado especial de Radio Nacional de España, me dijo: “Es
que uno se derrite de gusto”. Y añadió: “Es que nosotros hablamos muy bruto”.
A los
brasileños, sin embargo, les gusta también escuchar español. Te piden que se lo
hables, sobre todo si se trata de poesía, por ejemplo de Lorca o Neruda. A
nosotros nos puede parecer dura nuestra lengua al lado de ese deje musical
suyo, pero a ellos les gusta, la encuentran sonora, con una musicalidad, dicen,
diferente. Y los que han estudiado un poco de español se animan enseguida a lanzarse
al ruedo. Y al hablar nuestra lengua le encajan graciosamente la musicalidad
del portugués brasileño.
Estamos
hablando de dos lenguas hermanas porque nacen de una misma cepa latina. No
hablamos del portugués y el alemán o el sueco.
Uno de los
sueños de los brasileños de clase media es visitar España. Muchos me piden
siempre consejos de rutas. Vuelven siempre fascinados y se traen en la memoria
frases en castellano que te las ofrecen como un regalo. Y suenan aterciopeladas
en su boca. Les pasa también, por ejemplo con los mexicanos y los demás países
latinoamericanos. A los argentinos, uno de los lugares privilegiados del
turismo brasileño en América Latina junto con México, Perú o Chile, suelen
imitar con gracia, al volver de Buenos Aires, su acento porteño.
Todo esto
para decir que yo que amo ya a este país como parte de mi, aunque a veces
algunas cosas de su carácter me sigan irritando. Como a ellos deben irritarles
otras tantas mías. Me siento feliz de ver que este periódico con vocación
global e iberoamericana haya decidido hablar también portugués y desde aquí,
desde Brasil y con una redacción mayoritariamente brasileña.
Son estos
gestos, más que las leyes, los que nos puede llevar a ambos, sin darnos cuenta,
a ser bilingües sin leyes que nos obliguen a ello, con la sola fuerza de la
simpatía recíproca que se crea con diálogo, con intercambio de cultura,
conociéndonos mejor, trabajando juntos, porque como decía la académica Ana
María Machado, de ese modo descubriremos que “somos más parecidos y menos
distantes de lo que suponíamos”.
Ah, a los
brasileños les gusta también menos el dolor y la tragedia que a nosotros. Son
más proclives a la alegría sensual. Es curioso, por ejemplo que la palabra
dolor en español, dolore, en italiano, douleur en francés. En portugués usan la
forma más breve de todas. La han reducido, ya que no podían eliminarla, a una
sola sílaba: dor. Y hasta la pronuncian bajito. “E uma dor…” , exclaman ante
algo triste o ante una desgracia, y la sílaba dor casi se acaba perdido en el suspiro.
Somos,
juntos, hispanoablantes y de lengua portuguesa, una de las mayores poblaciones
del mundo. Lo que nos separa es mucho menor de lo que nos une. Y además, la
modernidad nos está eliminado la distancia física. Pronto atravesaremos el
Atlántico o llegaremos de Brasil a Madrid o México en menos tiempo que a veces
empleamos embotellados en un coche, en São Paulo o Río. Están cambiando los
conceptos de tiempo y espacio. Todo tiempo a acercarse ¿Solo nosotros
seguiremos distantes y separados hablando dos lenguas, que, como decía Machado,
casi se entienden?
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