lunes, 8 de abril de 2013

Elegia (Carlos Drummond de Andrade)




























Tarde abafada en el ardiente Mato Grosso. La pequeña Luisa duerme mientras yo estoy leyendo en la pantalla del ordenador portátil este poema de Carlos Drummond de Andrade. He pensado por un momento en traducirlo al español, sin embargo traducirlo sería apagar su música, la sonoridad del idioma portugués que el viejo minero y diplomático compuso como una sinfonía melancólica, gris y pesimista. La "Gran Máquina" de la que habla Drummond de Andrade sigue destruyendo inevitablemente nuestra frágil felicidad.


ELEGIA (1938)

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, 
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

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